Embalagens: lavar ou não lavar?

EMBALAGENS_OK_3Você lava as embalagens dos produtos consumidos em casa antes de jogá-las na lata de lixo com a boa intenção de viabilizar a reciclagem?
Se respondeu afirmativamente saiba que esta pode não ser uma atitude tão sustentável quanto se imagina. Você certamente está desperdiçando muita águapotável e, de quebra, aumentando a quantidade de esgotos despejados nos sistemas de coletas da sua cidade.
Por outro lado, a prática da lavagem desses recipientes – de plástico, alumínio, aço, papelão ou vidro – evita, sim, a infestação por formigas, baratas, moscas e ratos. O que fazer?
“Não existe resposta pronta, nem fácil”, afirma Sandro Mancini, especialista em reciclagem de resíduos sólidos e professor do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Mancini deixa claro que lavar as embalagens não facilita em nada a reciclagemdesses materiais, porque eles serão derretidos a altíssimas temperaturas. “Esses materiais vão cair em fornos com temperaturas altíssimas. Ou seja, um pouco de refrigerante, leite condensado ou vinho que estiver dentro de suas embalagens de alumínio, aço e vidro não fará diferença alguma. Vai virar fumaça que será neutralizada pelo sistema de tratamento de efluentes gasosos da empresa recicladora”, informa o especialista da Unesp.
De acordo com Mancini, o alumínio é derretido a 700 graus, em média, o aço a quase 2 000 graus e o vidro a 1 000 graus. Já o material plástico é derretido a temperaturas em torno de 200 a 300 graus. “Por terem temperaturas de fusão bem mais baixas os plásticos, ao contrário dos outros materiais, somente são derretidos depois de uma lavagem para retirar impurezas”.
Mesmo no caso dos plásticos, contudo, lavá-los em casa também pode ser considerado desperdício de água potável, de esforço e de tempo, de acordo com Mancini.
Ele toma como exemplo um frasco de maionese feito de PET, todo lambuzado. “Na indústria de reciclagem esse frasco vai ser moído, antes de tudo. Os flocos vão cair numa banheira com água de reuso, não potável. Por estar moído, essa lavagem será bem mais eficiente e a água será mais uma vez reutilizada até ficar nojenta. Depois ela será tratada e, provavelmente, voltará ao processo novamente, sem desperdícios”.
Mas e os problemas com os perigos da contaminação e com os bichos atraídos pelos restos de alimentos nas embalagens? “Por enquanto não há solução mágica para esse impasse”, reconhece o professor da Unesp. Em casa, tampar adequadamente ocesto de lixo pode resolver a questão. Em um depósito ou em uma cooperativa a situação se complica.
“Imagine uma cooperativa com milhares de latas de leite condensado com potencial de contaminação. É possível refletir, com razão, que uma lavagem feita em casa antes do descarte ajudaria. Mas também se pode pensar – e novamente com razão – que para o processo de reciclagem em si essa lavagem é desnecessária, pois essa lata vai ser derretida a 2 000 graus”.
Então, na dúvida, a recomendação é que se evite lavar as embalagens usadas paraeconomizar água. Melhor ainda é perguntar ao catador que passa na sua rua que nível de limpeza é suficiente para a manipulação posterior. Ele saberá responder com precisão.
Na próxima semana publico novas dicas e esclarecimentos do professor Sandro Mancini, da Unesp.
por:Afonso Capelas Jr.
é paulistano, jornalista e produz textos sobre meio ambiente, turismo ecológico e sustentabilidade desde que saiu da faculdade (ou seja, faz tempo). Hoje escreve para o Planeta Sustentável. Este blog foi criado para debater com os leitores ideias sobre o que podemos fazer pela sustentabilidade em nosso dia-a-dia. Sem dor, sem chatice, sem imposição, mas com a consciência de que não vivemos mais a era do desperdício. Afinal, está na hora de enfrentarmos o século 21.

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