Gente da melhor qualidade e quebrando paradigmas burros



Fê Pinheiro
Com uma folha de maconha, que a ajuda a relaxar

A atriz que fazia papel de boba no Casseta e planeta você já conhece. Mas e a mulher que lutou para aumentar o tempo da licença-maternidade, é formada em medicina chinesa e, agora, apresenta um programa sobre saúde, durante o quando experimentou - e aprovou - os efeitos da cannabis? Está na hora de você saber, de fato, quem é Maria Paula

Você vai conversar com a musa do Casseta e planeta. A mulher que, por 17 anos, encarnou sozinha todas as figuras femininas do programa e manteve na onda dela sete humoristas hiperativos, além do resto do Brasil. O que esperar? Uma gostosa divertida, no mínimo. A mulher que abre a porta de minivestido azul de bolinhas e cara lavada é exatamente isso. Só que muito mais.
Há toda uma outra Maria Paula. Aquela que já era formada em psicologia quando se mudou de São Paulo para o Rio, contratada pela TV Globo, nos anos 90 – e que, ao chegar, foi estudar medicina chinesa e acupressura, versão da acupuntura que usa os dedos no lugar das agulhas. Além de comediante, tornou-se uma hilária socorrista involuntária. Uma vez, saiu pulando sobre as cadeiras de um teatro, no meio de um espetáculo, para socorrer um homem desmaiado; outra, invadiu um carro onde uma senhora vomitava, apertando pontos de seu corpo e ordenando: “Toca pra clínica São Vicente!”.
“Eu chegava num lugar e alguém caía ao meu lado. Podia ser um show de rock, um avião. Quando via, tinha alguém precisando de ajuda. Não entendia tanta sincronicidade, até que compreendi que a realidade não é uma coisa pronta. É como na física quântica, em que o olhar do observador interfere no experimento. Você projeta o que está dentro de você. Eu estava aberta para ajudar, os necessitados apareciam.”
No auge de seu sucesso na TV, começou a estagiar no Instituto de Acupuntura do Rio de Janeiro, cuidando de pacientes. E teve problemas com alguns. “Eu entrava na sala para atender e as pessoas falavam: ‘Maria Paula? Que porra é essa? É pegadinha?’.” Nada disso a impediu de ter sua própria clínica, a TAO – onde, por incrível que pareça, a clientela estava mais interessada nos tratamentos do que em estar cara a cara com a estrela. Mas por que uma musa da televisão vai para um consultório cuidar dos outros nas horas vagas? A resposta é rápida: “Tem gente que gosta de roupa, de joia, de bolsa. Eu gosto de gente”.
Deixou a TAO quando teve Maria Luísa, hoje com 9 anos, filha de seu casamento com João Suplicy, com quem teve também Felipe, 5. Mas as questões da saúde não foram embora; pelo contrário. Foi convidada pelo Ministério da Saúde a fazer uma campanha de amamentação e percebeu um furo na legislação brasileira: enquanto o Ministério da Saúde pregava o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, o Ministério do Trabalho só garantia às mães quatro meses de licença-maternidade. Resolveu mostrar na imprensa a incongruência.
Uma de suas falas impactou o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Dioclécio Campos. Com ele e a senadora Patrícia Saboya, participou da campanha que garantiu licença-maternidade de seis meses para funcionárias públicas e benefícios fiscais para empresas privadas que garantam o direito às funcionárias. “Considero isso o topo da minha carreira”, ela diz, excitada. “Tudo o que fiz antes não se compara a essa conquista. Nós mudamos a legislação do país em prol das crianças. A criança que tem esse contato com a mãe recebe afeto, conhece o amor antes da violência.”
Logo em seguida, percebeu outro furo. “A mãe tem seis meses de licença-maternidade. Mas e depois? O Ministério de Educação só garante escola para crianças a partir dos 6 anos. O que é feito delas até poderem se matricular no ensino fundamental? Ficam na rua. E, quando chegam à escola, não se adaptam, não acompanham, querem ir embora. O índice brasileiro de evasão escolar no ensino fundamental é de 24,3%!” Militando pela mudança dessa cena, tornou-se madrinha do Pronei, projeto que quer garantir creches e educação infantil pública de qualidade para todas as crianças do país. Aprovado por unanimidade no Senado, o projeto aguarda votação na Câmara.
Metralhadora giratória, Maria Paula segue atirando: “As mulheres tiveram que se masculinizar para entrar no mercado de trabalho. Mas isso já foi! Agora a sociedade é que tem que se adaptar a nós, se tornar mais feminina. As empresas precisam dar espaço para que as mulheres possam ter filhos, acompanhar seu desenvolvimento e saber que vão estar assistidos enquanto elas trabalham”.
Seria normal acreditar que seu engajamento político vem da convivência com os ex-sogros, Eduardo e Marta Suplicy. Mas não. A moça já tinha suas questões desde pequena. “Nasci e cresci em Brasília. E via as minhas amigas do colégio. O pai era eleito e logo tinha um carrão, depois vinha uma lancha... Eu via as pessoas enriquecerem em quatro anos e sabia que isso não era possível pelas vias normais.”

Trabalhando na Califórnia, descobriu a cura da insônia: "comia meu chocolate de maconha antes de dormir e acordava às 6, relaxada"

Nem só de ativismo vive Maria Paula. Para pagar as contas, não sai muito do tema: apresenta o programa Saúde por aí, no GNT. Acaba de voltar da Califórnia, onde entrevistou gurus da contracultura e da medicina alternativa, acadêmicos e o lama que cuidou de Steve Jobs em seus últimos anos, tudo em inglês. Não é para os fracos. “Eu tinha 22 dias para gravar seis programas. Imagina dormir com essa pressão? Comprei Rivotril pela primeira vez na vida. Antes de tomar, me veio a lucidez: como vou falar de medicina alternativa chapada de tarja preta?”
Foi quando se deu conta de que na Califórnia a maconha é prescrita legalmente em tratamentos terapêuticos. “Fui a um médico e disse: estou fazendo um projeto que é o resultado de tudo o que vivi desde adolescente, o reflexo de tudo o que acredito. Eu preciso dormir!” Saiu do consultório do dr. Steven Rosenblatt (clínico geral e acupunturista) com uma carteirinha que permite consumir THC (tetra-hidrocanobiol, o princípio ativo da maconha). “Não fumei, porque consegui largar o cigarro a duras penas e não ia voltar a fumar. Mas comprava meu chocolate de maconha, comia antes de dormir e acordava às 6 da manhã, relaxada, pronta para a lida.”
Sobre a maconha, da qual é defensora da legalização no Brasil, Maria Paula falou bastante no Saúde por aí. Em conversas com a dra. Laura Carstensen, diretora do Stanford Center on Longevity, e com o dr. Timothy Fong, professor no Neuropsychiatric Institute da UCLA, a apresentadora descobriu que 25% dos californianos fumaram maconha em 2012 e que a droga pode anular os efeitos colaterais de tratamentos de câncer e outras doenças.
Saúde por aí trata de ansiedade, consumismo, obesidade, depressão, excesso de medicamentos – problemas contemporâneos. E, falando neles, como uma mulher acostumada a ser musa lida com o envelhecimento? “É uma loucura o que está acontecendo com as mulheres. Você vê pessoas na academia querendo ter, aos 50 anos, um corpo de 20. O que é isso? Eu já passei dos 40 anos, não quero imprimir 20. Não quero ser esticada, botocada. Quero estar saudável, bonita, mas quero ser uma mulher que imprime a idade que tem.”
Imprimindo a idade que tem, Maria Paula tem andado para todo lado com Victor Valansi Garcez, 23 anos. É seu namorado? “Ele é meu amor”, responde, abrindo um sorriso doce. “A gente tem os mesmos interesses, ele está sempre ao meu lado. O Victor é minha dupla evolutiva!” E, quando perguntamos se ela por acaso já sentiu algum tipo de preconceito pela diferença de idade, sua reação beirou uma gargalhada. “Imagina! Isso já era!”
Dupla evolutiva por perto, programa no ar, sucesso retumbante com o blockbuster De pernas pro ar 2, como ela imagina que sua vida pode progredir a partir daqui? “A melhor coisa que o budismo faz por você é ensinar que tudo é transitório. Eu não sou a atriz do filme que teve 5 milhões de espectadores. Eu estava sendo essa atriz, no momento em que estava no set filmando. Agora, sou a que pesquisa formas alternativas de saúde. Amanhã, quem sabe?”

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